terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A economia segundo os liberais e monetaristas

A situação da economia brasileira parece sólida se levarmos em consideração a opinião dos jornalistas da grande imprensa e dos economistas dos banqueiros, além evidentemente das grandes escolas de economia onde a visão monetarista prevalece.
As opiniões contrárias a política econômica adotada pelo governo nunca atacam a raiz das nossas maiores dificuldades e entraves. As opiniões fundamentadas não atingem grande parte da população que assiste jornais pela televisão, já que uma pequena parcela da imprensa comprometida com o jornalismo mais investigativo não atua na grande mídia.
Mesmo o jornalismo de massa quando trata sobre questões que envolvem macroeconomia discute o assunto utilizando jargões denominados de "economês", onde, mesmo os graduados em economia não compreendem o significado na sua essência.
A relativa estabilidade econômica brasileira está alicerçada em pilares sustentados pelas contingências, pela artificialidade da nossa política macroeconômica e pelas "comodities" ou chamados produtos primários, exportados principalmente para a China e antigos parceiros comerciais.
Enquanto os juros estiverem altos, os bancos brasileiros e aqueles instalados no Brasil continuarem a cartelizar o mercado financeiro, cada vez mais concentrado, e, a economia mantiver índices de inflação toleráveis a situação brasileira em termos econômicos estará satisfatória segundo a grande imprensa, os economistas dos banqueiros e aqueles cooptados pela ideologia liberal e monetarista.
Desta forma, a bolsa de valores continuará sendo importante como parâmetro de bonança, os juros importantes como remédio para controlar o "dragão" da inflação e a demanda econômica e social satisfeita, por enquanto, já que desde os anos de 1980 não tem as oportunidades de emprego e renda que estão tendo com o governo Lula.
Apesar da direita brasileira fazer oposição ferrenha ao Lula os seus argumentos em termos de economia estão aprisionados. A política econômica monetarista de Meirelles na condução do Banco Central agrada ao governo e também a oposição e como a aparente estabiidade e o crescimento econômico estão em alta somente um ano após o estouro da bolha especulativa financeira mundial, o que fazer? A oposição está de mãos atadas e ao mesmo tempo desesperada por uma brecha para atacar.
Como as brechas não aparecem e o caminho que percorre a economia está a contento, grande parte da sociedade não questiona. Se os jornalões estão sem munição, a economia mantém os endinheirados contentes e os pobres sobre o controle através das políticas de renda e o aumento de vagas no mercado de trabalho somos todos monetaristas. E quem não quiser aderir a crença liberal e monetarista incomode os consensos estabelecidos, critique os fatos atacando a essência, mesmo que a aparência distorça a realidade que está subjacente.

Autor: Marcelo Gonçalves Marcelino

3 comentários:

  1. Não concordo com o prof. Marcelo, tendo em vista que o elevado déficit público impõe a necessidade de manutenção dos juros em patamares elevados. Ninguém fala abertamente, mas a fragilidade evidente dos fundamentos da economia brasileira torna altamente arriscado investir em títulos da dívida pública, e, conseqüentemente, em todos os títulos oferecidos pelo mercado financeiro.
    Assim, se no longo prazo todos estaremos mortos, por que ficar se preocupando com o curto prazo?

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  2. É muito fácil criticar, mas apresentar propostas alternativas que não sejam quimeras políticas que é o difícil. Só existe um modelo de política moderna, aquele prescrito por Maquiavel, que é o da “realpolitik”.
    Qual é o grau de organização social dos excluídos? Elas têm um grau mínimo de efetividade na disputa pelo poder estatal? Se a resposta é não, então o governo que aí está é o governo do possível, gostemos ou não.

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  3. Agradeço pela participação dos comentadores. Concordo que apenas criticar o aparelho de Estado sem oferecer caminhos alternativos não basta. A questão que envolve o déficit público está invertida. São os juros altos que fazem aumentar o déficit público, e consequentemente a dívida pública e não ao contrário. O governo brasileiro através da política monetária do Banco central empresta dinheiro do mercado financeiro através da emissão de títulos da dívida pública com a intenção de enxugar liquidez para controlar a inflação. Esse dinheiro emprestado do mercado finaceiro não tem utilidade parado nos cofres do Banco Central. Desta forma, as demais políticas públicas não são realizadas a contento da sociedade já que esses recursos emprestados não são utilizados para não causar impacto inflacionário, segundo a perspectiva da visão monetarista, que acredita que a quantidade de moeda em excesso poderá causar impactos terríveis no sistema de preços. Se fosse desta forma os países desenvolvidos não teriam baixas taxas de juros e de inflação.
    Os recursos financeiros devem ser utilizados para fazer política pública e canalizar para o setor real de bens e serviços e não para a especulação no mercado financeiro.
    Se os títulos brasileiros fossem um mal negócio a nossa taxa de câmbio não estaria tão sobrevalorizada, quer dizer, o excesso de dólares entrando no Brasil despenca a moeda estadunidense e valoriza a nossa. Pra quem tem as maiores taxas de juros do mundo como o Brasil e a economia internacional em baixa o Brasil se tornou um excelente negócio.
    Em falar em realpolitik, o governo Lula poderia aproveitar da sua popularidade em alta e da sua legitimidade e mexer com coragem na política monetária e mesmo assim continuar gozando de prestígio com grande parte da burguesia que o sustenta. Com a taxa de juro em patamares razoáveis ou até mesmo perto dos países desenvolvidos os problemas econômicos poderiam ser melhor administrados e o governo teria uma gama muito maior para fazer mudanças sociais mais profundas, mesmo sem mexer nas relações de poder na sua essência.
    A chave do cofre está com o presidente do Banco Central e seus interesses de classe e estamento, mas com a legitimidade do presidente essa independência do Banco Central poderia ser questionada e Lula gozaria de apoio popular suficiente para isso. Apenas sob a perspectiva institucional, a mudança do foco desse comprometimento político contribuiria para uma transformação mínima que fosse, o suficiente para distribuir ou canalizar mais recursos principalmente as minorias sociais desprotegidas.

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