segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A força do mercado financeiro impede a diminuição dos gastos públicos

Os economistas dos banqueiros e aqueles cooptados ideologicamente balizam a opinião dos comentaristas de economia dos grandes meios de comunicação há muito tempo. A presidenta Dilma segue a cartilha da ortodoxia econômica e dos porta-vozes do mecado financeiro, assim como o ex-presidente Lula fazia, principalmente quando decidiu continuar dando autonomia as decisões do Banco Central (BACEN) e seu Comitê de Política Monetária (COPOM).
Novamente a desculpa de sempre, isto é, o aumento da inflação serviu de argumento para que os juros básicos subissem para além dos 11% ao ano. O aumento dos preços parece inevitável para uma economia em ascensão (demanda crescente com oferta insuficiente) somado ao fato de que na trasição de um ano para o outro sempre ocorrem distúrbios sazonais na oferta de comodities. Os manuais de economia conservadores sugerem que o remédio inflacionário seja o aumento dos juros para controlar a demanda agregada. Essa decisão agrada muito o mercado financeiro que agradece receber uma maior remuneração pela aquisição dos títulos públicos do governo.
Ao mesmo tempo que a mídia sugere quase que discretamente que o BACEN eleve os juros para controlar a suposta inflação ela também faz questão de lembrar o governo que os gastos do mesmo precisam diminuir, justamente para ajudar a combater a inflação. Qual a lógica dessa pressão? Os meios de comunicação desviam o foco na verdadeira causa do aumento da inflação e da dívida pública, isto é, os juros altos e distorcem a deecisão política que deveria ser tomada na direção tanto de diminuir os gastos públicos quanto sua contribuição para combater a inflação, já que, eventuais aumentos de preços em uma economia de mercado são impossíveis de serem controlados em curto prazo sem causar sequelas. Eles agem de forma muito bem articulada no sentido de permanecer a idéia de que não há outra alternativa e que as medidas devem ser tomadas com austeridade monetária e fiscal para controlar o dragão da inflação e o modelo permaneça transferidor de renda das classes menos abastadas para os endinheirados donos do poder político e econômico.
Para aqueles que não entendem do assunto a situação é essa: enquanto o Brasil insistir em controlar a inflação com aumento dos juros a dívida pública não apenas aumentará como a pressão sobre a taxa de câmbio também. Isso significa que quanto maior os juros maior será a chegada de dólares ao Brasil atraídos pela remuneração que os títulos públicos oferecem fazendo com que o dólar caia ainda mais e o real se valorize e com isso a dívida pública exploda no longo prazo. Se isso continuar as nossas importações aumentarão muito, principalmente em períodos de demanda bastante aquecida e os nossos produtos venderão menos para o exterior, já que eles estarão mais caros para quem os adquire de fora do Brasil. Desta forma poderá ocorrer um déficit na balança comercial, além de contribuir para acelerar o processo de desindustrialização.
Se quisermos evitar a fábrica de consensos midiática para esse e outros assuntos deveremos tomar as vacinas adequadas para a doença infantil da falsa comunicação e informação. A única vacina não deve ser tomada em dose única, já que nunca estaremos totalmente imunes, mas passa pela busca incessante de alternativas de informação e conhecimento que estão em todo o lugar, basta sermos seres mais sociais no que tange a organização política e as redes sociais.

Professor: Marcelo Gonçalves Marcelino