sábado, 27 de fevereiro de 2010

Malvinas, juros e transgênicos

Na última semana o jornal da Globo anunciou em tom animador que o Brasil chegou ao segundo lugar na produção de produtos geneticamente modificados, perdendo apenas para os Estados Unidos. A reportagem animada entrevistou agrônomos e um porta voz da empresa Monsanto (aquela do agente laranja do Vietnã). Essa matéria que se diz jornalística contribuiu apenas para propagandear os benefícios dos transgênicos e seu papel fundamental na economia agrícola brasileira.
O interessante dessa reportagem me pareceu a ausência de qualquer cientista ou pesquisador qualificado para opinar contra os transgênicos ou pelo menos alertar quanto a utilização dessas sementes por parte dos agricultores e do próprio consumo  humano desses produtos.
Muitos países da Europa não estão aceitando receber produtos geneticamente modificados, a sua produtividade é discutível por especialistas sérios, a rotulagem não está presente na maioria dos locais que comercializam os produtos, a questão que envolve a precaução não está sendo respeitada quando se trata de meio ambiente (plantas e animais) e da utilização para o consumo humano, além do perigoso monopólio da semente e do herbicida utilizado por parte de quem detém a patente, isto é, a Monsanto. Todas essas questões e muito mais não são abordadas em uma reportagem que trata de um assunto tão sério quanto esse. Esse é um assunto.
O outro se refere as Malvinas. Quando o presidente Lula diz de forma clara que as Malvinas pertence a Argentina e não a um país que se encontra a milhares de quilômetros desse arquipélago tão disputado, e ao mesmo tempo faz críticas severas a Organização das Nações Unidas por se esquivar da questão, ele é criticado pelo ícone global William Waack. Segundo Waack Lula está entrando num jogo perigoso.
Mas o que fazer então, quando as reportagens e os comentaristas do estilo Miriam Leitão dizem constantemente que a inflação brasileira está aumentando de forma preocupante. Leia-se: para dar conta de um possível surto inflacionário precisamos de um remédio, que apesar de amargo é necessário, isto é, o conhecido aumento da taxa básica de juros. Tudo que o mercado financeiro precisa ouvir e sentir e o mercado produtivo das micro, pequenas e médias empresas não; justamente aquelas que geram a maioria dos empregos.
Quando o paciente está com gripe receita-se um antigripal e não uma quimioterapia. A quimioterapia no caso são os juros exorbitantes, que mesmo diante de uma crise financeira alguns economistas dos banqueiros e da própria academia (o que é mais grave, principalmente quando se trata de uma instituição pública) insistem que o Banco Central deva mostrar firmeza na condução da política monetária ortodoxa, isto é, manter o juro básico em um nível que mantenha a inflação sobre o controle (e que os especuladores continuem a ampliar seu capital); e em muitos casos, como o de agora, propagandear que seja mais alto ainda. Nesse caso o que irá sepultar as nossas pequenas esperanças de ver a economia crescer e se desenvolver será o remédio e não a gripe inflacionária.
Em um país que ainda tem tudo para ser feito, isto é, uma demanda reprimida brutal, desigualdade e carências sociais severas, falar em juros não parece discurso de um país que está em transformação. Por isso, o assunto da democratizção dos meios de comunicação e do acesso a cultura deverá ser enfrentado o mais breve possível, caso contrário, continuaremos a balizar ações contra nós mesmos. Se dependesse exclusivamente dos meios de comunicação e de uma parte da elite brasileira seríamos em breve o maior produtor de transgênicos do mundo e sepultaríamos a agricultura familiar, defenderíamos o imperialismo anglosaxônico em vez de estabelecer um elo de ligação e estreitamento com os nossos parceiros e vizinhos na defesa dos nossos prórios interesses  e concentraríamos ainda mais a renda desse pobre e ao mesmo tempo rico país com a utilização de políticas macroeconômicas de efeito quimioterápico.

Autor: Marcelo Gonçalves Marcelino

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