quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Que perdure o legado de Walmor Marcellino

Na sociedade contemporânea do espetáculo as pessoas precisam aparecer, ou pelo menos, parecer ser alguém. As chamadas celebridades deixaram de ser célebres, pelo menos em grande parte. 
No lugar dos intelectuais engajados e dos combatentes políticos encontramos uma imensa fábrica de interlocuções e de consensos paradigmáticos; uma enorme caixa fechada, mas ao mesmo tempo dinâmica, que contempla idéias, valores, costumes e constrói, pasteuriza, molda os indivíduos a sua vontade e necessidade. 
Os indivíduos dotados de recursos econômicos, políticos e de outras espécies de poder, que conduzem e propagam verdades inquestionáveis trabalham nos bastidores e estão bem aparelhados. Aqueles que escapam ao turbilhão dos aparelhos de informação, comunicação, entretenimento e cultura de massa não são ouvidos por diversas razões.
Uma dessas razões encontra-se na legitimidade institucionalizada. Quem somos nós? Quem são esses sujeitos que afrontam as verdades da aparência? Se o jornalista da grande mídia relata, opina e mostra os fatos, quem sou eu ou mesmo nós a ousar abusar dos argumentos em favor da crítica e da combatitividade? A busca pela verdade e a luta pela sobrevivência e dignidade não encontram evidentemente apoio no poder; principalmente aqueles provenientes dos aparelhos de informação. Os grandes jornais não defendem a sociedade, mas eles apresentam uma visão artificial de imparcialidade. A cultura das grandes fábricas de entretenimento cooptam e moldam os cidadãos, apaziguando as subjacentes rivalidades e sujeições.
As minorias sociais e outras tantas pessoas ainda sobrevivem e travam lutas incessantes contra a repressão do poder, seja ele estatal ou privado e seus instrumentos de coerção e cooptação. E, uma dessas pessoas foi Walmor Marcellino, assim como tantos outros, anônimos ou não.
Como esse dia seria o dia de seu aniversário, caberá perguntarmos ao Walmor; não em vida; agora é tarde, mas a obra e a memória que permanecem. Walmor foi um desses indivíduos que ousaram a criticar de forma combativa e coerente, os governos, a grande mídia, o capitalismo voraz e desigual e a própria família quando era necessário.
O jornalista, escritor, teatrólogo e ex-dirigente partidário e sindical completaria 80 anos de vida nesse dia 4 de fevereiro. Devemos agradecer a essa personalidade ou esse cidadão do mundo, por ter deixado a sua marca registrada com tanta veemência. Quem conheceu está convocado a contribuir; pelo menos cuidar para que o seu legado não desapareça. Quem não conheceu está convidado a penetrar no mundo da criticidade e do olhar para uma outra cultura, valores e visão de mundo.

Autor: Marcelo Gonçalves Marcelino

Um comentário:

  1. Sinceramente, conheci poucas pessoas com a inteligência, cultura e firmeza política comparáveis a do Walmor Marcellino. Língua ferina, não perdoava a indigência moral e política da nossa classe dominante e de seus "intelectuais orgânicos".
    É através dele que percebemos que a ação política de esquerda no brazil se tornou lamentável, trocando o confronto pela acomodação, e, pior, pela subserviência aos ditames da acumulação de capital.
    Criticado como radical, Walmor é a prova que sem um projeto radical de transformação social, sobra apenas a "politicagem burguesa".
    Esquecem os corifeus da conciliação que "ser radical é ir à raiz das coisas, que é o próprio homem".

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