terça-feira, 2 de março de 2010

O desemprego estrutural e a falácia da educação

O desemprego nos países desenvolvidos se consolida como estrutural, mesmo em modelos de Welfare State clássicos. Apesar das dificuldades e dos entraves, a cooperação dos nórdicos minimiza a desintegração do sistema capitalista no que tange aos empregos e a distribuição dos frutos do progresso tecnológico. Esses modelos começam a sofrer pressões da necessidade de acumulação e reprodução do capital e geram conflitos e impasses políticos e sociais.
Os suecos, dinamarqueses e noruegueses enfrentarão desafios cada vez mais severos no que diz respeito ao processo de acomodação das forças produtivas e sua inserção no modelo cada vez mais complexo e dinâmico da divisão internacional do trabalho.
As questões estão postas e os países da Europa central como a Alemanha e a França não estão conseguindo resolver os impasses gerados pela desestruturação do sistema capitalista. O sistema trabalha como uma espécie de destruição renovadora e reorganizadora do processo de acumulação e reprodução do capital.
O sistema educacional precisa se reorganizar para dar conta das necessidades e tarefas que o próprio sistema excludente exige, quer dizer, educação universalizante para o conjunto da população, mas sem a qualificação mínima para desalienar os sujeitos e capacitá-los para o mercado de trabalho, e, educação para a elite assumir tarefas de pensar e conduzir os negócios, tanto públicos quanto privados. Quando colocamos essas questões elas fazem parte de um complexo sistema hierárquico de separação e exclusão indireta dos cidadãos, mesmo em países desenvolvidos como Alemanha e França.
A desagregação social, a consequente fragmentação familiar e de todas as instituições tradicionais são reflexos de uma sociedade desigual na sua essência, além da própria superação dos paradigamas seculares baseados na igreja e no rei. O capitalismo não concentra apenas renda e riqueza, mas todos os símbolos que orbitam em torno de uma sociedade paradoxalmente mais fragmentada e complexa em uma massificada concentração e apropriação de valores, que antes, estavam afastados e subjacentes ao capital.
A mercadoria se amplia, o seu sentido tangível parece ter significação intangível e a educação aparece como valor alienado e alienante dos seres sociais. Esse estágio de maturação do sistema não permite avançar na direção da capacidade de gerar valores a serem laboralmente construídos ou lapidados. A divisão do trabalho contemporâneo exclui cada vez mais os indivíduos, independente, inclusive do nível educacional. Aqueles muito qualificados são considerados muito caros, a não ser aqueles que pensam e executam tarefas essenciais para o sistema funcionar ou atuam em nichos de mercado muito específicos; e aqueles pouco preparados segundo a educação formal estão excluídos ou atuando em trabalhos precários ou marginalizados.
Esse panorama se refere ao modo de produção capitalista e suas relações de trabalho, mesmo em países considerados avançados. No caso brasileiro, o liberalismo econômico disfarçado de políticas afirmativas e  de fomento à atividade produtiva está alicerçado ou ancorado em políticas macroeconômicas chamadas de estabilizantes (entenda-se como controle inflacionário a qualquer custo, mesmo que seja para enriquecer os donos da dívida pública) fazendo com que a criação de empregos que exige baixa qualificação apareça como o dinamizador e impulsionador da economia.
A política monetária do governo brasileiro e o Programa de Aceleração do Crescimento compartilham contradições e ao mesmo tempo a estabilização do sistema (o apaziguamento,  e o raso e aparente equilíbrio entre a burguesia e o proletariado) do capitalismo periférico. Essa contradição do governo brasileiro conduz a dependência econômica e a raspa da panela do desemprego. Se mesmo em países avançados o desemprego estrutural está colocado como um problema social grave a ser enfrentado, o Brasil exportador de comodities do agronegócio, se, adotar ou seguir essa cartilha ou modelo, não conseguirá resolver seus problemas estruturais com educação, haja visto, que caixas de supermercado estão surgindo com cursos superiores de administração de empresas.

Autor: Marcelo Gonçalves Marcelino

Um comentário:

  1. Concordo com o prof. Marcelo, a questão da educação está subordinada necessariamente ao debate do modelo econômico que o brazil deseja. Não é possível discutir educação, como querem os “pedagogos”, sem colocar claramente que o que baliza o ensino é a economia, o resto é papo furado de diletante acadêmico.

    Assim, dentro do atual modelo agro-exportador brazileiro, colocamos as seguintes questões:
    - existe necessidade do governo federal financiar com bolsas de estudos, milhares de vagas em faculdades particulares que são verdadeiras fábricas de diplomas?
    - A profusão na abertura de novas vagas e cursos superiores nas universidades federais, gerando um enorme gasto na formação de futura mão de obra desempregada, tem realmente lógica dentro do atual sistema produtivo?

    Somente os iluminados do MEC não enxergam que a grande carência de mão de obra no brazil se dá ao nível de trabalhadores nível médio. E, pior, quando temos consciência de que estes trabalhadores devem pagar com os próprios recursos para terem acesso a este nível de ensino.
    Então, como tudo no brazil, a educação também é uma piada. Existem recursos para formar uma legião de bacharéis em administração de empresa, gestores ambientais e outros cursos estúpidos pós-médios, enquanto você não consegue contratar um simples motorista de colheitadeira que saiba trocar o óleo do motor.
    Claro, vão dizer os pedabobos, o brazil necessita de pensamento crítico, blá, blá, blá...tal argumento é tão idiota que eu não vou nem comentar.

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