sexta-feira, 14 de maio de 2010

Humildes lições de economia - parte 2

A partir da abordagem anterior verificamos que a economia brasileira pratica uma política quase que contraditória se não fosse lógica. Apesar da política monetária contracionista o governo abre os cofres para o gasto fiscal em infraestrutura e demais áreas sociais, além do crédito, minimizando os impactos negativos da política monetária e cambial. Com uma demanda reprimida, crédito e gastos do governo a economia continua crescendo, demonstrando que a política de juros altos sozinha não controla a inflação.
Vamos as explicações didáticas:

- Como o governo retira dinheiro de circulação (processo de enxugar liquidez) com a política de juros, já que o objetivo de controlar a inflação passa pela crença, de que, quanto menos moeda circulando menos inflação?

- O governo emite títulos da dívida pública no mercado financeiro com a intenção de pedir dinheiro emprestado para o mercado privado. Esse dinheiro emprestado faz parte do processo de retirada de dinheiro de circulação da economia. Detalhe: o governo paga juros de mercado seguindo a taxa básica (SELIC) que o próprio COPOM aconselhou ou sugeriu que fosse negociado no mercado; guarda esse dinheiro emprestado e não faz nada com ele, paga pela remuneração do capital fazendo aumentar a dívida pública.
Quando isso acontece em demasia a dívida pública baseada nos títulos pode ser explosiva e conduzir o governo a fazer um ajuste fiscal, isto, é, diminuir gastos sociais como saúde, educação e segurança e ainda aumentar impostos, já que a receita do governo cai devido a queda nos investimentos produtivos e a diminuição das receitas das empresas ( o governo arrecada menos sobre o lucro das empresas já que a atividade econômica cai)

- Qual a razão que explica o dinheiro recebido da remuneração pelos títulos não inflacionar o mercado?

O dinheiro retorna para a aquisição de novos títulos, já que o governo precisa continuar emitindo títulos para manter o controle de liquidez. O BACEN remunera os títulos,mas em seguida emite novos com prazos de pagamento diversos. Essa política fez a dívida pública saltar de cerca de 60 bilhões de reais no início do Plano Real para quase 2 trilhões de reais na atualidade. Até o final do mandato do presidente Lula essas cifras alcançarão esse patamar que eu mencionei.

- Como os outros fatores da economia são afetados?

Ocorre uma mobilidade de capital do setor produtivo para o financeiro quando a taxa de juros aumenta, inviabilizando os investimentos no setor real a longo prazo se a taxa básica continuar aumentando. O custo de oportunidade (a escolha da melhor alternativa de investimento) pende para o lado dos melhores ganhos ou rendimentos em detrimento dos seus custos e riscos. O setor financeiro remunera melhor, já que os custos de produção aumentam com os juros altos; não compensa o investimento em matérias-primas e na contratação de trabalhadores, já que a remuneração em títulos públicos é maior. Portanto, os investimentos caem e consequentemente a produção - o desemprego aumenta, a renda cai, assim como o consumo e a receita das empresas forçando so preços para baixo - diminui a pressão inflacionária.

E no câmbio?

As altas taxas de juros atraem capital especulativo (de curto prazo) do exterior para o Brasil, recheando o mercado de divisas de dólar - desvalorizando assim a moeda americana - consequentemente valoriza o real. Desta forma, o poder aquisitivo do real aumenta perante as outras moedas, tornando os produtos importados mais atrativos e consequentemente deixando os nossos produtos mais caros para vender no exterior. Esse aumento das importações força a competição, já que os produtores nacionais terão que concorrer com os produtores importados; forçando assim os preços para baixo no processo de competitividade. Em compensação a nossa balança comercial sofrerá as consequências, já que venderá menos e trará menos receita para o país podendo ocasionar déficits crônicos na nossa balança comercial. Isso será péssimo, já que poderemos entrar em colapso devido a dívida crescente e teremos que recorrer a empréstimos internacionais para cobrir a dívida (nos tornaremos reféns do FMI novamente). Vamos relembrar que o Brasil quebrou em 1999 devido a sobrevalorização cambial e a Grécia é mais um exemplo de ausência de fundamentos sólidos, devido a política de excessos governamental.

O caso das bolsas de valores no mercado de capitais conduz a uma lógica dual. Os juros elevados podem frustar os ganhos no setor produtivo, sendo que os seus fluxos de caixa futuro poderão sofrer alterações no sentido de queda fazendo com que o preços das ações baixem e os negócios nas bolsas diminuem. Por outro lado, fatores relacionados a notícias políticas fabricadas ou ao acaso, assim como rumores de ordem econômica no país ou n o mundo podem favorecer ou piorar as negociações das bolsas de valores, demonstrando que esse mercado é extremamente volátil e suscetível a crises. Após o fim de Bretton Woods e do lastro produtivo do keynesianismo o que resta a economia mundial são as organizações populares em prol uma articulação sólida que permita a sociedade a retomar as rédeas dos descasos dos governos e do capitalismo financeiro desenfreado. A Grécia tornou-se o exemplo da derrocada do sistema e ao mesmo tempo um modelo de luta e reivindicação política, mesmo que, infelizmente às custas da vida de supostos inocentes no processo de contestação que não dá sinais, pelo menos por enquanto, de trégua na combativa luta política.

Até o próximo encontro.

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