terça-feira, 16 de março de 2010

A panfletária ciência política

A greve de fome de um preso político cubano terminou na sua morte exatamente no período que o presidente Lula visitava aquele país. As declarações do presidente deixaram a mídia em povorosa e provocaram discursos e debates acerca dos direitos humanos na ilha caribenha.
O programa Painel do canal por assinatura Globo News comandado pelo jornalista William Waack apresentou os cientistas políticos Bolivar Lamounier e Cláudio Couto, além de um jornalista residente em Cuba para comentar e discutir as declarações do presidente Lula sobre a morte do ex-preso cubano.
Apesar do pomposo nome dado aos acadêmicos que estudam a política, isto é, os chamados cientistas políticos; as análises sobre as declarações de Lula e os argumentos do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim foram analisadas de forma superficial e sem levar em conta as formalidades diplomáticas existentes entre os países.
O expectador atento compreende que fazer declarações sobre as decisões ou a política interna de cada país, além de manifestar posições sobre como determinados países devem agir me parece no mínimo complicado.
A postura histórica do Itamaraty mesmo em tempos de PSDB não confrontava países que mantinham regimes ditatoriais, autoritários ou qualquer nome que se queira dar a eles.
O Brasil continua a atuar de forma parcimoniosa nas relações internacionais, mas com uma atuação a partir do governo Lula muito mais ativa e universalizante. A mediação de conflitos, as propostas de integração de outros países ao Mercosul, a participação incessante em fóruns, encontros e reuniões entre os países da América Latina e outras parcerias econômicas, sociais e culturais pelo mundo fazem do governo Lula um modelo de democracia nas relações exteriores.
A aproximação com os presidentes da Venezuela e do Irã são uma prova que o Brasil assume uma liderança sem igual na história brasileira, além de manifestar discordância aberta ao golpe hondurenho. Essas posturas de defesa em direção ao diálogo para diluir conflitos e a visão estratégica de parcerias e integrações com outros blocos econômicos fazem da nossa diplomacia uma das melhores no mundo atual.
Quando Lamounier discorda de Amorim com relação ao embargo econômico a Cuba, no sentido de não entender que o embargo faz uma grande diferença para aquele país, talvez, possamos entender que, as análises que apenas discutem os temas na superficialidade não podem e não tem o interesse suficiente em utilizar a ciência política para contribuir para a elucidação das complexidades que envolvem as ciências sociais.
No final, todos os três entraram na zona arenosa do consenso sem acrescentar praticamente muita coisa ao debate, a não ser falar sobre os deslizes de expressão do presidente, do apoio a regimes considerados autoritários ou anti-democráticos, mesmo que a literatura da ciência política não os considere assim, e fabricar opiniões que balizem o pensamento da direita conservadora e reacionária.
Parece uma defesa a Lula pura e simplesmente, mas na realidade trata-se de alertar alguns desavisados quanto aos conteúdos dos discursos políticos e ideológicos que estão subjacentes.

Autor: Marcelo Gonçalves Marcelino

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